terça-feira, 15 de maio de 2012

Boas maneiras

Contorço-me e aperto as pontas dos dedos suados. Luto contra mim mesmo. A ausência de uma companhia fiável sufoca-me e a multidão que me rodeia não faz ideia da solidão que me invade. O barulho que se faz sentir não me penetra a alma, mas sim picadas pontuais do meu pensamento que encurralado em si mesmo implora por uma saída.

Incapaz de transmitir, fecho-me, violo a minha própria capacidade de comunicar e assumo o fim da sensação num quarto de paredes brancas que é o meu cérebro. Tento digerir de forma despercebida e rápida. A primeira com algum sucesso, a segunda nem por isso. Ainda que poucos se apercebam do bolo alimentar em processamento, a lentidão causa ardor. Sempre me ensinaram a mastigar de boca fechada. E de coração?

sexta-feira, 16 de março de 2012

Vidas

De tempos a tempos é bom parar e ter um tempo morto para pensar global. Nos últimos dias consegui fazê-lo.
Tento perceber o que está a acontecer no mundo e na vida dos Portugueses. Em conversa no escritório, numa garfada ao almoço, num café matinal, vou-me apercebendo da diversidade dos percursos e preocupações das pessoas. Anotando mentalmente interesso-me. Como todos. Basta ver as audiências das novelas nacionais. As vidas dos outros interessam-nos. Comparamos, apontamos, invejamos, refletimos.
Por um lado falo com amigos em Portugal e sinto o drama profissional que se vive. Lamentações de trabalhos precários e de escassez de oportunidades. Por outro lado, ouço amigos mais velhos na Argélia com discursos de felicidade pouca. "Os filhos crescem e não os acompanhamos de perto." Escravos do trabalho. Vivem o presente com a visão utópica do futuro feliz quando no fundo estão a perder o bom do presente. A família, os amigos, a intimidade e o conforto da terra onde nos sentimos bem.
Faço a minha análise em relação às diferentes posições. Se por um lado, do ponto de vista profissional, sinto que tenho sorte dentro da crise global, por outro também me custa bastante estar longe das pessoas que gosto e não ver crescer os meus sobrinhos e perdendo os melhores anos da minha vida a trabalhar num país do norte de África.
Mas acabo por ficar sereno e tranquilo. A sensação de me construir como engenheiro e sobretudo como ser capaz de se relacionar pessoal e profissionalmente com diferentes estratos sociais e culturais de sociedades de todo o mundo, é algo inestimável e muito motivante. No entanto, urge a necessidade de aprender a manter o contato mais próximo com os meus. De melhorar essa faceta sob o risco de um dia voltar, e sentir que já não sei ser Português, Filho, Irmão, Amigo ou Namorado. De sentir que já não sei viver na pacatez da minha cidade sem a aventura de um novo país, um novo desafio. Cai, rebola, levanta. E assim sucessivamente até aprender a cair, esquivando e prevendo o novo tombo, evitando-o.

Até breve, Salam Malek!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Dinâmica

20.11.2011 - Aeroporto Internacional de Alger - 17h30
"Entre Tizi Ouzou e Argel, abstraindo-me de toda a confusão que me rodeia penso e repenso a minha actual situação profissional e pessoal.
Nas viagens que faço entre a capital e a obra, nas esperas de café do aeroporto, faço constantes balanços. Sinto-me bem. São e capaz. Um dia a lidar com argelinos banais, por vezes mal formados, trabalhadores. Noutro a discutir milhares de euros com o empreiteiro geral. Segunda a fazer preparações de ferro para aplicar em sapatas ou pilares, Terça a fazer preparações de cofragem e ponderar a gestão do material. Perceber se é possível garantir a betonagem de Quinta com os painéis disponíveis. Autocad para perceber a quantidade de fechos de madeira que vão necessários fazer e aplicar. Quarta a trazer 4 Portugueses ao aeroporto e a trabalhar a "boa convivência" entre todos para a seguir estar aqui a tomar um café com o director de produção e a discutir horários de trabalho e rendimentos de equipas e pormenores de produção. Almoço a dois com temas a pensar o futuro na Argélia, no Brasil, perspectivas profissionais. Receber alguma motivação por um lado, perceber a responsabilidade depositada por outro. Alguma sintonia e companheirismo profissional de engenheiro para engenheiro. Olhar para trás e realizar o que se foi construindo, o que também contribui para esse crescimento. Quinta a tirar senhas de refeição para Sexta, receber queixas do pão do pequeno almoço que estava seco. Tanto ligo para apertar com o homem da cantina, como a seguir estou a fazer um planeamento do próximo mês e previsões de facturação. Estou constantemente ocupado sentindo respeito por todos. Gosto do que faço, de outra forma impossível estar aqui, viver aqui. Naturalmente que houve alturas em que não dormi bem, em que senti pressão, em que fui apertado, mas passar por tudo isso e ver a responsabilidade crescer faz-me sentir capaz e acima de tudo, que tudo se resolve. Com mais ou menos dores de cabeça, com mais ou menos saber.
Decidir às custa mas é necessário fazê-lo. Por vezes bem, por vezes mal. É tão importante acertar como errar. A repetição do erro faz-nos aumentar a incidência das boas decisões. Decidir bem treina-se.
No meio disto tudo tenho uma meia hora para tomar um café au lait no aeroporto enquanto espero, ler Mario Varga Llosa em espanhol, escrever em português e a seguir falar francês.
Adoro ter tempo para mim, faz-me imensa falta o desporto regular, a família, os amigos e Porto. Mas também gosto desta dinâmica de trabalho.
Sempre achei os aeroportos locais especiais. Vemos partir, vemos chegar, vemos dinâmica!"

Até já! Salam Malek*

sábado, 5 de novembro de 2011

Travesuras de la niña mala

Estou a ler um livro que comprei em Arequipa, Peru, de Mario Vargas Llosa e a personagem sobre a qual gira o enredo suscitou-me alguns minutos de reflexão.

A ambição é uma qualidade considerada por todos de inegável importância. Tal como a sua escassez é vista como sinal de mediocridade ou até mesmo pobreza de espírito. Qualquer pessoa que tenha vingado profissionalmente se diz de fortes ambições, homens bem sucedidos são repetidamente apelidados de empreendedores ambiciosos. Autobiografias em livro ou documentário não se cansam de enaltecer esta qualidade nas personalidades das mais diversas áreas como se dela dependesse o resultado final entre o sucesso ou o fracasso.
Porém, querer mais até que ponto? Não será ambição a mais também falta de maturidade? Não será sinal de infelicidade a longo prazo? Insatisfação crónica não é problema de fácil resolução. É medíocre estarmos satisfeitos com o que temos? Dar valor às pequenas (talvez grandes) posses que temos, ou às grandes (talvez de tamanha pequenez) conquistas profissionais? É bom? É talvez relativo interrogar assim de forma tão vaga. Tal como é também de relativa importância cada uma das vitórias pessoais que conseguimos tempo a tempo. Mas se vago é o meu assunto, espero que cativante também o seja. Pensar nisto faz bem de forma a encontrarmos o equilíbrio entre a ambição e o nível de satisfação que nos apraz.
E lembro-me agora de uma frase que esteve durante anos na parede de uma casa na rua Marechal Saldanha em frente a um dos "tea time spots" mais clássicos da cidade do Porto, a Xícara, e que dizia em letras grafitadas: "A vida é uma enorme refeição. Não faças dieta nem sejas guloso."

Até breve, Salam Malek
Incha Allah!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Simple Things

Dormir mais duas horas do que o habitual. Tomar o pequeno-almoço (my favourite daily meal) com tempo. Tê-lo para fazer torradas com doce. Acompanhar com um café com leite quente e notícias online do dia e rádio nova no ar. Ver Sic Notícias por meia hora. Fazer a barba. Almoçar e tomar um café na rua.

Banal? Sim.
Habitual? Não.
Outrora desvalorizado? Sim.
Gostoso? Claro.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Doces Pensamentos

Por vezes desbravo memórias ao mais ínfimo pormenor. Cheiros, cores e palavras não me saem da cabeça. E sou capaz de o repetir vezes sem conta durante uma hora. Na cama, no escritório, a guiar, seja onde for. Não me liberta e faz-me reviver os pormenores de cada lugar, de cada palavra, de cada olhar. A memória algema-me o raciocínio e viajo saboreando todas as pontas do pensamento que me assalta, como se bebesse sofregamente as últimas gotas de uma garrafa de água fresca no meio do deserto. Lambo a colher do pudim repetidamente e sorrio. Doce, doce, mas o seu fim está à vista. E termina. A realidade volta e o livre arbítrio de pensamento impõe-se novamente. Perder o pleno domínio da situação pode tornar-se perigoso mas sabe tão bem... =)
Até breve.
Salam Malek

sábado, 15 de outubro de 2011

Découvrir Algérie

Há quase duas semanas em solo Argelino começo a ambientar-me. A casa vai ganhando móveis e consequentemente algum conforto. Sabe bem nem que seja por duas horas ao final do dia. A obra é muito interessante, cheia de pormenores de construção e vertentes que me fazem crescer profissionalmente. As pessoas parecem trabalhar de uma forma coordenada e o ambiente é bom, dentro do contexto de uma obra claro. Há sempre arrufos, ditos por não ditos, fofocas... mas em geral corre tudo bem.
As minhas funções começam a definir-se de forma mais clara e gosto das responsabilidades mais abrangentes que me começam a tocar. Gestão de materiais, faseamento de frentes de trabalho, facturação, decisões de planeamento, sempre tudo com uma componente económica muito presente. O importante, o fundamental, é no final do mês fazer o balanço entre os gastos e a facturação. Se não correr bem $$$, perceber porquê. Calcular rendimentos de equipas das diferentes especialidade, enfim... a tal secret skill escondida em todos os (bons) engenheiros civis - a capacidade de gestão! Claro que existe a porca, o painel, o ferro de 20, os inertes, o betão, os prumos, as tijes... enfim toda essa parte mais técnica existe e tenho q estar por dentro mas falha-me muita coisa é normal, tudo vem com a experiência.

Andar na rua não é propriamente perigoso como se possa pensar. Como disse, é algo caótico, sempre confuso. Os homens de barbas compridas e vestes compridas e rendilhadas falam árabe alto e negoceiam na rua. São estranhos ao início e todos parecem ter caras de terroristas mas o hábito faz-nos adaptar às circunstâncias e começamos a perceber que são pessoas normais, apenas com outros costumes. Os locais apercebem-se da afluência de estrangeiros e não parecem importar-se. Por outro lado, são simpáticos. Já conhecemos o homem do café onde religiosamente tomamos o nosso cafezinho matinal às 6h20/6h30, o da papelaria em frente mete-se sempre connosco dá-nos conselhos, faz conversa. Na obra todo o staff se conhece, há algumas administrativas que tratam das papeladas o que é bom para amansar a malta e originar aquele burburinho das cuscuquices conjugais uns dos outros e faz com que haja sempre assunto.
Como disse o ambiente é bom, não só dentro da minha empresa, como com o empreiteiro geral.

Noutro dia fui a Argel de carro buscar um homem ao aeroporto... guiar numa autoestrada na Argélia altera todo o conceito de via-rápida que um europeu possa ter. Apesar de ter 2 faixas de rodagem em cada sentido e o limite legal ser 120 km/h há pormenores que mudam radicalmente a forma de guiar. A via não deixa de ser rápida, quando não transito guia-se muito rápido, não é totalmente estanque como a conhecemos em Portugal. É normal haver pessoas a atravessar a pé a estrada saltando o separador central. É normal haver carros em contra-mão na berma. É normal haver fruta à venda na berma bem como táxis e aglomerados de pessoas que esperam boleia. Há casas com a porta colada à estrada. Existem em algumas zonas controlos policiais de bombas e carros suspeitos que abrandam o transito e transformam uma estrada de 2 faixas em 5 faixas. Vale tudo. Os carros ficam a centímetros de distância e circula-se na berma ainda asfaltada e ainda na berma da berma onde normalmente é terra esburacada... Os carros formam filas intermináveis e é a lei do mais forte. A buzina é banal, diria mais, é viciante. É contínua em zonas de trânsito. Existem em algumas zonas vendedores... de resto como na Linha Vermelha, via rápida que fiz vezes imensas no Rio de Janeiro e também como na cintura de Bucareste outra que conheço bem.

Vou descansar minha gente. Com saudades.

Salam Malek (cumprimento em árabe para Olá e/ou Adeus, ouve-se constantemente)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Bienvenue à l'Algérie!

Quinta-Feira, dia 6 de Outubro de 2011 – Cheraga, Argel, Argélia.
"Na Terça-Feira aterrei na capital deste país do Magrebe, no norte de África. Antes de pisar solo Argelino, ainda em Lisboa, apercebi-me da diversidade do tipo de pessoas que entravam a bordo do pequeno avião que fazia voo directo entre as capitais.

Mulheres de lenço na cabeça, claramente de religião muçulmana, homens de negócios (Eu e o meu chefe =) entre outros...), mulheres de raça negra a arranhar um francês duvidoso carregadas de maquilhagem e bugigangas, famílias argelinas aparantemente normais mas sempre com aquele ar desconfiado e triste, homens morenos de calça de linho branca, sapato afiambrado e jóias ostensivas, provavelmente Argelinos ricos e parolos.

Ao baixar a cabeça para sair da porta do avião, olho em frente, ainda em cima da plataforma das escadas, e sinto aquela brisa africana que espero que seja um bom presságio desta temporada. Inspiro fundo e desço.

O aeroporto é o local mais ocidental que existe neste país. É novo e moderno, há multibanco e as pessoas falam inglês.
Saindo, começo a aperceber-me da confusão que embora possa parecer caótica a todos os níveis, só o é ao nível da organização e meios disponíveis. Na atitude das pessoas, na dinâmica da cidade parece-me até calma. É preciso realçar que estou apenas há dois dias por cá e que 90% do tempo não foi a passear e portanto todas estas impressões não passam de um primeiro olhar atento.

Começando por histórias muito rápidas e que nunca vi acontecer em mais lado nenhum, logo no parque do aeroporto vi alguns carros bloqueados no estacionamento. Carros novos, recentes. Não estavam abandonados. A questão é que estavam bloqueados com blocos de cimento da largura do carro e à altura da matrícula à frente e atrás! Não percebo. Não tirei fotografias.

Dirigimo-nos, Eu, o Chefe e Director de Produção da Argélia para Cheraga, zona relativamente perto de Argel onde existe uma grande obra da empresa e na qual me encontro neste momento. Nesse dia à noite, quando íamos para casa, vemos um carro fazer uma rotunda em sentido contrário, normal. Também nessa noite (e na seguinte) acordo por volta das 4h com as rezas barulhentas da Mesquita que se encontra perto de nossa casa. Muito barulhentas. E eu até não tenho o sono muito leve... “Depois habituas-te e deixas de acordar...”
Hoje ao almoço o Director de Produção tinha voltado do aeroporto para ir levar o chefe e mostra-nos na sua máquina fotográfica um homem a andar de patins na autoestrada! Estava algum transito e o homem no meio dos carros a fazer slalom... enfim.

O ambiente é tipicamente árabe, gente de pele gasta, barba rija e olhos desconfiados de vestes muçulmanas. Há uma mistura de favela brasileira, casas inacabadas e feitas de uma forma desorganizada, de poucos acabamentos, com aquele ambiente de guerra que vemos na televisão na faixa de gaza. No entanto não se sente perigo.
Ontem de manhã fui trocar dinheiro a um quiosque ao mercado negro onde as taxas de câmbio são melhores. Cenário de transação de droga... com comunicação discreta em francês (o que aumenta ainda mais a sensação da ilegalidade do ato) e passagem de notas pelo lado do balcão onde algumas pessoas compravam tabaco e consumíveis mundanos.
Amanhã viajo para Tizi-Ouzou, na zona de Cabil (não estou certo que se escreva assim) onde é a minha obra. Sexta-Feira é o dia de folga na Argélia. Vou aproveitar para perceber um bocado melhor o que me rodeia e poder ser mais pormenorizado na análise. Não esperem um relatório muito completo, o intuito da minha estadia aqui é claro e até agora não se desviou nem um centímetro do seu propósito – trabalhar. A obra onde estive estes três dias está com o prazo apertado e portanto as horas de trabalho são imensas. Não vou precisar para não vos cansar mas tenho dormido pouco e com as interrupções citadas, mas é o esquema normal, já estava à espera. Não vos quero maçar com pormenores da obra, aí sim poderia escrever já bastante. Última informação: consta que na casa onde vou ficar hospedado há internet o que é uma excelente notícia, uma vez que neste momento por cá, nem em casa dos engenheiros nem aqui na obra existe essa grande invenção do século XX. De outra forma nem sequer estariam a ler isto =)
Sinto que vai ser uma grande experiência. Nestes dias já consegui ter uma amostra das várias sensações que vou ter ao longo dos próximos tempos: stress, simpatia, maldade, satisfação, pressão, saudades.
Até breve, au revoir!"

Hoje, dia 7 de Outubro já me encontro em Tizi Ouzou. Já estou em casa, tenho quarto para mim o que é bom, vivemos num 6º andar sem elevador o que é óptimo para manter a forma, afinal há alcool, o que é bom para desanuviar, mas é mau para a boa forma física... =) Hoje é sexta, dia de descanso semanal, o Domingo cá do sítio.
Vivo em frente a uma escola secundária cheia de bandeiras. São muito nacionalistas por cá... as ruas são desorganizadas, o transito também, toda a gente apita, há muito lixo no chão, os passeios têm todos buracos e estão incompletos tal como as fachadas dos edifícios. Tijoleira, cimento, buraco, poça, betão inacabado, pilar de uma cor, pilar de outra, passadeiras que desaparecem do asfalto a meio da estrada, cafés de portas de ferro, quiosques manhosos, gente a vender na rua... antenas parabólicas, muitas antenas, é engraçado andar por aqui. Tudo é diferente e confuso. Mas, não é hostil. Requer uma visão positiva claro, mas é algo que tenho a certeza que me vou habituar.
Apontamento de trabalho: Afinal os medidores do empreiteiro (quem nos contratou) são argelinos, o meu francês vai ter que sofrer um fast improvement... tem que ser. O arquitecto é Tuga mas depois o Director de Obra geral parece que também é de cá... enfim, a ver vamos.

Até breve! Au revoir!

sábado, 16 de abril de 2011

Saudades, the meaning...

Já o comentei com algumas pessoas mas precisava escrevê-lo!
O músico brasileiro Gabriel o pensador escreveu que "a palavra Saudade só existe em português" e pensava eu que, sendo Português, tinha o privilégio de a perceber e sentir como mais ninguém. Estava errado. A verdade é que, e sorte a minha, nunca me tinha apercebido do seu verdadeiro significado. Pensar nas pessoas, recordar histórias e lugares é normal quando se está longe mas sentir saudades, daquelas profundas que nos fazem sentir vivos e emocionados ao som de uma música ou ao olhar de uma imagem, de um símbolo... só mesmo quem realmente já as sentiu sabe do que falo. Conclui que nunca tinha tido saudades verdadeiras até então, talvez alguns momentos de nostalgia, mas toda a gente sabe que nostalgia não é o mesmo que saudades. Não todos. Talvez apenas os que falam e entendem a nossa língua e mesmo esses...
Mas este texto é escrito numa manhã solitária e aconchegante na serenidade do meu abrigo em Constança e é motivado por um caprichado pequeno almoço a ver o telejornal da rtp na net. Apesar de todos os problemas que assolam o nosso país, dou por mim num ataque de saudades ao ouvir notícias positivas, que outrora passar-me-iam despercebidas, mas que no contexto em que vivo me fazem sorrir e começar bem o dia numa remota cidade da Europa do Leste.
As quintas vinhateiras do Douro assediadas por estrangeiros e as espantosas imagens de um dos mais bonitos rios do mundo - O Douro. Ana Moura, reconhecida fadista nacional a ver o seu trabalho ser valorizado por terras Germânicas, convidada para gravações com uma banda de Jazz e finalmente, ouvir, ver e sentir o Majestic, no Porto, ser reconhecido como o 6º café mais bonito do mundo e ouvir o seu proprietário falar com o seu sotaque orgulhosamente tripeiro!



Diga quem disser, digam o que disserem, FMIs ou portugueses rabujentos no café, bom ou mau, a verdade é que tenho saudades de estar aí!
Reconhecer o real significado da saudade, palavra talismã do fado, faz-me perceber que sou um português ferrenho e orgulhoso do meu país, que considero único no mundo. Sorte a minha ter nascido numa cidade de tamanha beleza e pessoas hospitaleiras.
Sou Português com muito orgulho!

Até breve, multumesc!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Portugal e Eu

O nosso país anda virado do avesso... nem me lembro do (pseudo?) "País político" apenas do meu (egoísta?) "País pessoal", mas pelo que vou lendo não está politicamente famoso o pseudo, e o egoísta derrete-se em pensamentos de saudade... por um lado a lógica fuga à crise, por outro a crise romântica da minha mente.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Sol

Certo final de tarde, num ônibus do outro lado do oceano, escrevi no meu bloco sobre a capacidade do tempo influenciar o meu estado de espírito. Recordo-me como se fosse hoje. Estava um final de tarde com uma luz quente e o clima era de uma tranquilidade tal que o habitual trajecto barulhento e lento se apresentava com pouco tráfego.
Os momentos não se repetem nunca, mas os estados de espírito sim!
Hoje, ontem e anteontem esteve um céu limpo na Roménia, aquela brisa de Primavera que nos faz parar em frente aos raios aconchegantes de sol e fechar os olhos. Adoro.
E assim, caminhei e observei mais confiante, com aqueles sorrisos interiores que apenas se revelam subtilmente no canto da boca.

domingo, 13 de março de 2011

Falling in love... (again?)

Gosto cada vez mais de Bucareste... grande cidade meus meninos... Metrópole europeia salpicada de momentos de ciganice, polvilhada com um trago de transito caótico mas funcional e com uma pitada de gente de olhos bonitos e expressões amenamente frias. Um panelão de diversidade...
Vir a Bucareste ao fim de semana é como vir à tona da água para respirar das profundezas de um mar de dias de semana de trabalho. Domingo à noite… encher os pulmões da alma da mente… que ganhou espaço e liberdade para se aventurar pelas tais milhares de coisas pelas quais (também) me interesso extra-trabalho, extra-obra.
Bucareste é uma cidade como tantas outras coisas na vida… primeiro estranha-se, depois entranha-se. Como me dizia um caro amigo, aos poucos e poucos vamos percebendo como se desenvolvem as suas formas à imagem da mulher. Vendo a cidade como se de uma mulher se tratasse… vamos reparando no decote mais atrevido num dia, noutro nas pernas torneadas pela saia mais curta, noutro ainda nos volumes escondidos revelados por umas calças mais justas… O metro, os parques, as feiras, os pedintes, os ciganos, os estudantes, os alternativos, os skaters, os dreads, os fashions, os edifícios com grandes publicidades ofuscados por um pôr-do-sol laranja como a fruta, os canais espelhando as mesmas cores da vitamina C.
Para além desta magia inata, a minha segunda casa ajuda-me a inspirar ainda mais fundo. Durmo bem neste refúgio, vulgo Moulin Rouge pelas suas características menos comuns. Desta vez não são paredes rosas, mas sim iluminações e decorações vermelhas. Sinto-me confortável e sou recebido com tamanha hospitalidade que imagino não ser vulgar nos tempos que hoje correm…
Assim, entrego-me à paixão que se vai desenvolvendo a pouco e pouco (ou talvez a muito e muito). Mas é oficial, estou apaixonado por esta menina. Mãe qualquer dia apresento-ta ;)

Até breve, multumesc!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Emancipação Luso-Romena

Hoje tive um Domingo diferente. Este final de semana fiquei em Constanta e ontem não saí à noite. Hoje acordei cedo e tinha combinado com o Joan ir ver algumas motas em segunda mão que ando à procura. O Joan não trabalha para a minha empresa mas sim para a empresa espanhola que contratou a FCM, nomeadamente a FCC – o suposto inimigo! As coisas não deviam ser assim mas é a mais pura das realidades. Os conflitos são imensos, os contratos não são claros acerca de algumas responsabilidades e é o dia todo a decidir quem faz o quê e se é pago como trabalho extra ou se já estaria subentendido no contracto. Enfim, penso que é normal na construção este tipo de situações. Voltando ao Joan… Conheci-o na obra e pareceu-me um homem diferente dos demais. Trabalhou vários anos em Espanha e parece madrileno a falar por isso foi fácil comunicar… Trabalhador e interessante o homem. Fez-me várias perguntas, fez-se interessado mas sempre com uma postura profundamente humilde. Imagino que a sua vida não tenha sido fácil, soube mais tarde que fez parte do exército romeno durante alguns anos e depois foi para Espanha onde já trabalhava há 10 anos para a mesma empresa. O trabalho escasseia na terra de nuestros hermanos e foi, contra a sua vontade, recambiado de novo para o seu país natal onde ganha aproximadamente metade do que ganhava em Espanha. Apesar disso, não parece um homem amargurado, antes com uma grande garra de trabalhar e seguir a sua vida.
Em conversa de obra falei-lhe na minha vontade de comprar uma scooter para me deslocar aqui em Constanta e poder estar completamente independente de tudo e todos na obra. Posso dizer que gosto do que faço, da diversidade do dia-a-dia, da envolvência que se cria entre os trabalhadores, serventes ou carpinteiros, engenheiros ou encarregados, no ambiente de obra. No entanto, antes de me mudar de casa sentia-me sufocado. Gosto imenso de milhares de outras coisas para além do trabalho e não posso, não quero, nem vejo vantagem em me deixar absorver totalmente pela esponja do mundo da construção. Por um lado quero desenvolver este lado prático de saber como as coisas se fazem no campo, ganhando estofo e respeito, mas por outro desejo manter a minha faceta teórica e mais intelectual intacta! É importante comer, falar, discutir, socializar, rir, pensar com toda a espécie de pessoas. Neste caso, com pessoas de baixo nível social. E não falo (apenas) de serventes, mas sim de engenheiros e encarregados, Portugueses, Italianos, Romenos… enfim, vejo-me rodeado de pessoas sem modos, com pouca classe, com menos educação que eu. Como digo, não posso deixar que me retirem a sanidade mental que sempre me regeu, os princípios que me foram ensinados e agora fugindo ao tom dramático com que esta frase começou, precisava do meu espaço para poder viajar mentalmente para estar com vocês. Assim, tomei a decisão de arranjar a minha casa/quarto – check. O próximo passo é arranjar uma mota para me deslocar de forma, como disse, independentemente por esta terra. Desviei-me do assunto completamente =)
O Joan ofereceu-se de forma voluntariosa e deixou-me à vontade para lhe ligar no fim de semana que ele apanhava-me e ia comigo a uma feira só de coisas em segunda mão.
Podem imaginar um mercado repleto de ciganos Romenos, Búlgaros, Turcos a impingir tudo o que pudesse e o que não pudesse ser vendido. Não tinha a máquina comigo nem me parece que fosse apropriado utilizá-la naquele meio, mas posso-vos dizer que vi muita tralha e lixo que não percebo como é possível vender: fios de telefone, teclados de pc sem teclas, monitores com o vidro partido, auscultadores de telefone (só o auscultador mesmo, com os fios de fora), serras ferrugentas, botas usadas, sapatilhas usadas, roupa usada, chaves, chavinhas, chavetas, martelos, toda a espécie de ferramentas de trabalho enferrujadas, agulhas, ferros de engomar antigos (muito fixes), espelhos renascentistas, estátuas esquesitas, pins do regime soviético, canivetes, navalhas, cintos, fivelas de cintos, cordões usados, cordas, para além claro dos clássicos livros, relógios, óculos e essas coisas que se sempre se vêm neste tipo de feiras. Havia algumas motas e scooters à venda também mas de qualidade duvidosa e todas acima do razoável e também do budget… À saída do local no entanto, estava um rapaz de óptimo aspecto comparado com quase toda a gente da selva de onde tinha saído. Estava a vender uma scooter com bom aspecto e quase nova. Fundamental o facto de ter um romeno comigo para a comunicação e também para não parecer um estrangeiro endinheirado perdido no leste. O rapaz pareceu de confiança e o preço estava dentro daquilo que tinha pensado. Ficamos com o número e depois de alguma negociação amanhã espero fechar negócio. A ver vamos… Seguidamente ofereci o almoço ao Joan como forma de agradecimento e depois deixou-me em casa. Espero completar amanhã a minha tarefa de emancipação luso-romena. Se assim for, as coisas começam a ficar ao meu gosto e espero começar a tirar mais partido desta cidade que já percebi ter mais do que algumas pontes em construção. A propósito, Sexta Feira tive oportunidade de visitar algo da noite de Constanta e apercebi-me que há potencial equitativo ao de Bucareste. Sábado fui nadar aqui a uma piscina à beira de casa, num hotel chiquíssimo. Embora caro, soube-me maravilhosamente bem e deu para ter um cheirinho do pólo aquático do qual tenho saudades.

Com saudades de Portugal e de todos vós.

Até breve, multumesc!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Snowing time

Sexta feira. Alvorada às 05h30. Graus negativos e chuva de gelo. Uma espécie de neve mas esqueçam aquela neve branca e fofinha do natal... Mais próximo de chuva gelada do que de neve propriamente. A ajudar à festa muito vento. Tudo junto resulta numa paralisação facial intensa. Passada meia hora recebemos uma chamada do fiscal a mandar toda a gente para casa. Não havia realmente condições para trabalhar em lado nenhum, quanto mais em cima de um tabuleiro gelado e escorregadio a 10 ou 15 metros de altura. Confesso que me soube a mel... a semana tem sido dura sempre a acordar entre as 5h30 e as 6h e precisava de recarregar baterias... para o fim de semana! E para a semana também claro...
Fui para casa tomar um pequeno almoço à lorde e aproveitar o meu novo estúdio. Torradinhas com manteiga e doce, café com leite, sumo de laranja natural e finalmente uma banana. A neve lá fora, que de manhã parecia inimiga, transfigurou-se e nessa altura senti-a amiga e reconfortante. Aproveito para dar uma geral na casa, tomar um banho quente e prolongado, fazer a barba com toda a calma do mundo ao som de um reagge matinal. Faço a mala. Vou almoçar ao shopping e aproveito para fazer umas compras (mãe, perdi metade dos meus boxers e meias =) eheh).
Agora deliciem-se com este episódio: Saio do shopping, apanho um táxi, "gare de autobuz pentru Bucuresti, da? Multumesc!" o homem percebe e começa a dirigir-se para os autocarros. Lá fomos a 10 à hora, nevavam gatos e cães (like in english) e os carros derrapavam em todo o lado. Chego e vou comprar o bilhete. Em comparação com a o que tinha visto na net, saiu mais barato, saía mais de meia hora mais tarde e em vez de demorar 3h30, demorava 4h! Normal na Roménia, pensei eu. Vou comprar uma água e uma bucha para o caminho. Compro uma raspadinha (que ainda está por raspar), sento-me, levanto-me, ouço música, sento-me de novo. Levanto-me e vou ver onde era o sítio de onde saía a camioneta... "Plataforma 1" Tinha-me dito a mulher... começo a andar e a pensar... plataforma? estranho... e de repente vejo COMBOIOS!!! Começo a rir-me sozinho e percebo que estou numa estação de comboios e que tinha comprado um bilhete de comboio e não de camioneta! Ahahah. Entretanto entro dentro do comboio e percebo que talvez me tenha saído bem até, tem tomadas para ligar o pc de onde vos escrevo agora, é muito confortável, é mais seguro e é quentinho. Demora mais mas também é mais barato. Perfeito! A paisagem é deliciosa, baixo relevo, tudo branco!
Agora vou dormir um bocado, estou cansado desta semana e tenho uma longa noite pela frente em Bucareste ;)
Vou agora tentar a minha sorte com a raspadinha.

Até breve, multumesc!
(pormenor: multumesc tem uma cedilha no T e então lê-se multsumesc. Sempre a ensinar-vos coisas novas e interessantes, hein?)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Relações

Absolutamente fascinante a forma como desconhecemos a realidade Portuguesa imigrante.
Tenho lidado com alguns encarregados de obra Portugueses e é de facto impressionante como somos ignorantes em relação a esta gente. Vulgos trolhas ou serventes, vejo-os agora de forma diferente da minha ideia pré e precocente concebida. Muito além disso.
Trabalham há mais de 10 anos fora do seu país, na Irlanda, em Inglaterra, Alemanha, enfim… várias experiências e vivências diferentes. São pessoas muito trabalhadoras e com grande valor. Uns falam alto, outros comem de boca aberta, outros tocam nas pessoas quando falam, outros gesticulam muito, todos usam e abusam do calão de uma forma indeterminadamente constante. Todos trabalham, cada um à sua maneira. Mas todos produzem. Riem-se e vão vivendo as suas vidas focados em enviar dinheiro para Portugal, para a sua família. São profundamente determinados em ajudar os seus, respeitam-nos à sua maneira, nem sempre pelos mesmos parâmetros que regem a minha conduta. Guiam-se pelos seus, que à primeira vista reprimo, mas pensando melhor nas suas vidas chego a considerar legítimos. Falam inglês, alemão, até mesmo romeno. Sabem muito da vida em obra. Conversam sobre o que já fizeram, como fizeram, quando fizeram. Nota-se que isto é a vida deles, comentam camiões como quem comenta carros de alta cilindrada. Chegam a ver vídeos no youtube de camiões… “Esta máquina chega a carregar 30 toneladas…” Tratam o martelo por tu e são os responsáveis pelas coisas acontecerem, sejam elas, prédios, pontes ou autoestradas.
Dou por mim a jantar à mesa com 3 homens calejados de vida em obra a falar de viadutos, vigas, painéis de 2 por 3,5, mesas de cofragem, ferro de 16, paletes de barrotes, tijes, borboletas, manitous, muros de contenção, betonagens e afins.
Gente grossa e rude, não se iludam. Mas com muito conhecimento prático. Com o famoso “know-how” e faço questão que seja entre aspas. Homens sem os quais as coisas não aconteciam, repito.
E o mais interessante de tudo isto, é a minha mistura entre esta gente, a adaptação aos termos, ao calão, às demonstrações de amizade, mas ao mesmo ter consciência do meu saber escondido, as minhas outras formas de estar que guardo só para mim. Revelo-as quando falo com as altas patentes da obra. Fiscais de uma empresa inglesa ao serviço do dono de obra, neste caso o estado Romeno. Homens de mais de 60 anos, um sul-africano e outro sueco, com o seu rigor britânico e a sua conversa técnico-teórica, que também me desperta interesse, e onde talvez me sinta até mais à vontade. Estar a falar com velhas lendas da engenharia, em inglês, sobre soluções de betonagem com temperaturas abaixo de 5ºC (temp. mínima para a cura do betão) confesso que me dá gozo. Ao mesmo tempo vejo um dos tais encarregados a dar cartas e a mostrar toda a sua capacidade técnica adquirida ao longos de vários anos de trabalho “in the field”.

É esta a magia que tenho sentido em obra e me faz admirar estes homens. Sempre com humildade mas sem perder o respeito, aprender é assim… through the hard way. O constante balancear entre conversas com gente mais instruída, e simples serventes de obra dá calo e fumenta a principal característica de um trabalhador seja em que área for: a capacidade de uma pessoa se relacionar socialmente com os vários intervenientes com os quais sobre obrigados a lidar no contexto da nossa actividade profissional.
Numa obra de construção civil não é diferente, é fundamental.

Até breve, multumesc!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Momento

"Preso" na estação de metro da Piata Universitat em Bucareste. Cafezinho subterrâneo com wireless e chocolate quente nas mãos para aquecer. Música "I can fly". -5 ºC lá fora. À espera que os meus companheiros portugueses cheguem a casa para ir pousar as malas. Preso entre Constança e Bucareste, a sensação de ir a casa descansar 2 dias. Às vezes sinto-me um daqueles militares que vemos no comboio a ir a casa ao fim-de-semana, ou simplesmente um viajante perdido numa capital do leste coberta de neve.
Cá estou. A pensar em mim e em vocês que vão ler isto.

Até já, multumesc!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Romania

Cá estou eu em plena Europa do leste, mergulhado nas profundezas de uma Roménia outrora Comunista, hoje em dia uma “nova-rica” aberta ao mundo com tudo o que de bom e mau isso acarreta. Desde o desenvolvimento precipitado (mas necessário) que sente no investimento social e económico resultante da sua entrada na UE, às tendências americanas que invadiram a Europa e aqui parecem ser seguidas à regra. Por vezes sinto que este país não tem rumo, por vezes percebo como acaba por ser organizado na sua tremenda desorganização. Um pouco à imagem do meu quarto no Porto, percebes mãe?
Tenho vivido a meias entre Bucareste e Constança. A minha visão de Constança é talvez algo injusta em relação a Bucareste mas aqui vai: Bucareste, cidade muito bonita, adoro! Passo a explicar… Não é Paris, nem Londres, nem o Porto. Não é essa beldade que vejo nas ruas. É a junção dos elementos que a faz única e completamente diferente de todas as cidades por onde já passei até hoje. São os prédios antigos por fora, são as largas avenidas, são os edifícios históricos que surgem atrás de esquinas apertadas, é a neve que cobre a cidade, são as árvores despidas, são os muros incompletos a fazer lembrar os filmes da segunda guerra mundial e os cenários que imagino. Fuzilamentos a sangue frio contra paredes de tijolo e janelas partidas. Sarcástico mas de alguma maneira convidativo a viver este ambiente. São os velhos com aqueles gorros soviéticos a embaciar as janelas suadas do metro e as mulheres sofisticadas que passeiam a sua beldade pelas ruas de luvas chiques e cigarros finos. As linhas de metro que cruzam a estrada, os kebabs nas esquinas, os relógios russos (ou talvez romenos, na minha cabeça são russos, tipo os de Praga com contornos dourados)… tudo acaba por funcionar. O centro, Uniri a lembrar Picadilly Circus com grandes edifícios e placares de publicidade gigantes. Os cães vadios e os parques onde as pessoas se passeiam ao Domingo, apontamentos constantes. As opções nocturnas são imensas e para todos os gostos. É uma cidade moderna, atractiva na sua mistura entre o recente e o antigo. Há algo de sedutor no facto de as pessoas andarem todas encasacadas na rua e cheias de cachecóis, todas tapadas. Quando entram no espaço fechado, qualquer que seja, o ambiente é quente e convida ao chocolate quente mas também ao convívio com outras pessoas e há magia nisso. Despem-se os casacos… os gorros… mas também a frieza aparente e a pouco e pouco ficam visíveis, não só os contornos escondidos por dentro dos sobretudos, mas também traços de personalidade e intimidade invisíveis à primeira vista. As pessoas aparentemente fechadas e frias revelam-se e começo a ganhar algum apreço por esta gente. No entanto, por mais instruídas que sejam, relevam-se básicas noutros sentidos. Nas suas necessidades, nos seus momentos de relaxe, à mesa, a guiar, mostram-se muito marcadas por um país frio e muito injusto durante vários anos. É a minha tímida imagem até agora. Mas voltando a Bucareste, é uma cidade fantástica mas Constança também pode vir a ser. É difícil comparar porque até agora a cidade costeira foi o meu poço de trabalho e Buca de divertimento. A minha vida por aqui é acordar e ir para a obra, faço de tudo. Ando por lá com o meu caro amigo Florentin, engenheiro Romeno, aparentemente uma pessoa rude e tímida, mas tenho vindo a descobrir uma pessoa bastante culta e muito mais próxima de mim do que poderia pensar. Acabo por dar por mim e estou a almoçar com ele numa pizaria qualquer a falar de cidades europeias e de modos de vida e da vida de estudante e descubro que não somos assim tão distantes. Gosto dele. Aos poucos e poucos conquisto a sua confiança, ganho pontos, sorrisos, confissões e até desabafos da parte dele. Tem 27 anos e é um engenheiro Romeno. Já trabalhou em Portugal na Martifer e cá na Roménia para a Martifer também. Mas dizia eu o meu dia-a-dia é muito variado e eu gosto disso. Resolver problemas na obra: por máquinas a arranjar, fazer medições ao material que já entrou na obra, controlo de custos, mapa de tarefas, o que está ou não atrasado, o que é preciso deslocar de uma ponte para a outra, algumas chamadas para Bucareste para tirar dúvidas do projecto, fazer preparações em autocad de soluções de cofragem para a próxima semana, ir ao supermercado comprar coisas de última hora, andar de carro, ouvir música, falar com os trabalhadores, enfim. Não sinto que o curso me sirva de muito, claro que quem não está dentro do tema não conseguia perceber quando falam entre si. Por outro lado, a formação como pessoa, como ser pensante e relacional está constantemente a ser posta à prova. A casa que a empresa oferece não é nada de especial, nem sequer muito bem localizada, não tenho hipótese de sair e ir ao café nem há ginásios perto. As condições são discutíveis mas digamos que já estive melhor instalado. Vivo com o Florentin e com 2 encarregados portugueses boa gente e muito trabalhadora. Acolheram-me bem, à sua maneira, faço por me integrar e o meu calão melhora a cada dia que passa, está na sua plenitude.
Constança tem assim o meu benefício da dúvida… Penso que no Verão esta cidade ganha vida e muita gente vem para aqui de férias e a praia enche-se de festas na areia e fica calor o que é óptimo.
Não tive ainda sequer oportunidade de ver o mar, como é possível? Mas vou mudar isso… talvez em Abril pense em alugar um quarto mais próximo do centro e vou comprar uma bicicleta ou uma mota para me deslocar aqui. É tudo mais ou menos perto mas a pé é impossível e não há transportes, tudo muito arcaico, fracas infraestruturas (excepto junto à praia, mega resorts e hotéis). Não posso deixar de falar nos portugueses que estão em Bucareste, boa gente onde tenho ficado hospedado aos finais de semana. Companheiros de rocks e boa vida.

Já trouxe uma carrinha Renault Master de caixa aberta (à trolha mesmo) de Bucareste para cá, sozinho, a nevar, a sair às 5h30 de lá com direito a perder-me nos arredores de Bucareste a tentar encontrar a autoestrada para cá… absolutamente surreal, senti-me num daqueles filmes antigos a preto e branco a andar por estradas nacionais escuras.

Mas sinto-me bem. Confesso que a minha capacidade de adaptação me surpreende. Nem todos os dias são bons mas o balanço é extremamente positivo.

Já não é aquela sensação de tempo livre e de poder conhecer tudo e todos à minha volta mas enfim, trabalhar é assim. Os fins de semanas, esses sim, são aproveitados até ao último minuto e o dia-a-dia é vivido com mais serenidade e vontade de aprender.

Até breve e multumesc!

p.s.a.u.d.a.d.e.s dos amigos, dos mais clássicos senhas, dos confiáveis feup foz, dos amigos contacto, dos íntimos casarosa, dos valiosos lisboetas, dos mxs boa onda, do sniki (já não vejo há muito), das amigas (!), dos mais recentes do Rio, do desporto, do pólo e todo o staff, das bolinhas, dos sobrinhos, dos paizinhos, do conforto da minha casa, dos irmãos e respectivos(a), do Porto! É bom sentir que pertencemos a algum lado e que as pessoas têm significado. Bem vinda Luisinha!!!

p.s.a.u.d.a.d.e.s.2 das corridas no calçadão e de ouvir o sotaque carioca, música para os meus ouvidos eheh.

Jaime

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Pressupostos Sobrescritos

Quando menos esperamos somos abençoados por algo, que quero acreditar, não ser divino mas, de alguma forma, superior. A vida não pára. Por outro lado, continua a todo o gás, vira as folhas como quem desfolha uma agenda à procura de um contacto na letra z.
Dizia o Palma, "enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar" e muito bem.
Vamos em frente.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

2011

Novo ano, nova etapa, novos desafios, mas acima de tudo uma nova perspectiva da vida. Uma visão panorâmica, limpa, projectada no presente mas tendo em vista o futuro... Todas as dúvidas, os medos, as indecisões, ficaram fechadas com 2010.

Este será o ano da afirmação, um ano de decisões mas também de confirmações pessoais.
Um ano de confiança! É a minha convicção.

Bom 2011 a todos!

domingo, 26 de setembro de 2010

Manhã Fresca e Noite Quente

Esta manhã saí de casa e senti uma brisa de Outono que não sentia há mais de um ano. Aquele arrepio que senti fez-me recordar uma estação do ano inteira. Um segundo fez-me passar em revista 3 meses, e na minha cabeça despoletou-se uma engrenagem de ponderações. Tudo é efémero. Nada é eterno. Mas tenho saudades e nem sempre consigo ser positivo.

Saudades de viver esta estação do ano, mas também saudades de não a ter tido durante 1ano.
Saudades das folhas que caíam à porta de tua casa e me sujavam o carro. Saudades dos autocarros e das pessoas que conheci.
Saudades de te ver. Saudades da vida que levei.
Saudades do sorriso. Saudades das gargalhadas de grupo.

Por outro lado olho para o futuro que há-de vir e sinto-me tentado em passar uma casa e ver mais à frente. Uma batota consensual. Mas o destino é juiz e raramente consensual. Mas eu não acredito no destino. Mas também não me arrisco a enfrentá-lo. Gostava de acreditar e de lhe confidenciar pormenores que não me parecem justos. No entanto, consta que não recebe ninguém, nem aceita requerimentos.