terça-feira, 15 de maio de 2012

Boas maneiras

Contorço-me e aperto as pontas dos dedos suados. Luto contra mim mesmo. A ausência de uma companhia fiável sufoca-me e a multidão que me rodeia não faz ideia da solidão que me invade. O barulho que se faz sentir não me penetra a alma, mas sim picadas pontuais do meu pensamento que encurralado em si mesmo implora por uma saída.

Incapaz de transmitir, fecho-me, violo a minha própria capacidade de comunicar e assumo o fim da sensação num quarto de paredes brancas que é o meu cérebro. Tento digerir de forma despercebida e rápida. A primeira com algum sucesso, a segunda nem por isso. Ainda que poucos se apercebam do bolo alimentar em processamento, a lentidão causa ardor. Sempre me ensinaram a mastigar de boca fechada. E de coração?

sexta-feira, 16 de março de 2012

Vidas

De tempos a tempos é bom parar e ter um tempo morto para pensar global. Nos últimos dias consegui fazê-lo.
Tento perceber o que está a acontecer no mundo e na vida dos Portugueses. Em conversa no escritório, numa garfada ao almoço, num café matinal, vou-me apercebendo da diversidade dos percursos e preocupações das pessoas. Anotando mentalmente interesso-me. Como todos. Basta ver as audiências das novelas nacionais. As vidas dos outros interessam-nos. Comparamos, apontamos, invejamos, refletimos.
Por um lado falo com amigos em Portugal e sinto o drama profissional que se vive. Lamentações de trabalhos precários e de escassez de oportunidades. Por outro lado, ouço amigos mais velhos na Argélia com discursos de felicidade pouca. "Os filhos crescem e não os acompanhamos de perto." Escravos do trabalho. Vivem o presente com a visão utópica do futuro feliz quando no fundo estão a perder o bom do presente. A família, os amigos, a intimidade e o conforto da terra onde nos sentimos bem.
Faço a minha análise em relação às diferentes posições. Se por um lado, do ponto de vista profissional, sinto que tenho sorte dentro da crise global, por outro também me custa bastante estar longe das pessoas que gosto e não ver crescer os meus sobrinhos e perdendo os melhores anos da minha vida a trabalhar num país do norte de África.
Mas acabo por ficar sereno e tranquilo. A sensação de me construir como engenheiro e sobretudo como ser capaz de se relacionar pessoal e profissionalmente com diferentes estratos sociais e culturais de sociedades de todo o mundo, é algo inestimável e muito motivante. No entanto, urge a necessidade de aprender a manter o contato mais próximo com os meus. De melhorar essa faceta sob o risco de um dia voltar, e sentir que já não sei ser Português, Filho, Irmão, Amigo ou Namorado. De sentir que já não sei viver na pacatez da minha cidade sem a aventura de um novo país, um novo desafio. Cai, rebola, levanta. E assim sucessivamente até aprender a cair, esquivando e prevendo o novo tombo, evitando-o.

Até breve, Salam Malek!