sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Snowing time

Sexta feira. Alvorada às 05h30. Graus negativos e chuva de gelo. Uma espécie de neve mas esqueçam aquela neve branca e fofinha do natal... Mais próximo de chuva gelada do que de neve propriamente. A ajudar à festa muito vento. Tudo junto resulta numa paralisação facial intensa. Passada meia hora recebemos uma chamada do fiscal a mandar toda a gente para casa. Não havia realmente condições para trabalhar em lado nenhum, quanto mais em cima de um tabuleiro gelado e escorregadio a 10 ou 15 metros de altura. Confesso que me soube a mel... a semana tem sido dura sempre a acordar entre as 5h30 e as 6h e precisava de recarregar baterias... para o fim de semana! E para a semana também claro...
Fui para casa tomar um pequeno almoço à lorde e aproveitar o meu novo estúdio. Torradinhas com manteiga e doce, café com leite, sumo de laranja natural e finalmente uma banana. A neve lá fora, que de manhã parecia inimiga, transfigurou-se e nessa altura senti-a amiga e reconfortante. Aproveito para dar uma geral na casa, tomar um banho quente e prolongado, fazer a barba com toda a calma do mundo ao som de um reagge matinal. Faço a mala. Vou almoçar ao shopping e aproveito para fazer umas compras (mãe, perdi metade dos meus boxers e meias =) eheh).
Agora deliciem-se com este episódio: Saio do shopping, apanho um táxi, "gare de autobuz pentru Bucuresti, da? Multumesc!" o homem percebe e começa a dirigir-se para os autocarros. Lá fomos a 10 à hora, nevavam gatos e cães (like in english) e os carros derrapavam em todo o lado. Chego e vou comprar o bilhete. Em comparação com a o que tinha visto na net, saiu mais barato, saía mais de meia hora mais tarde e em vez de demorar 3h30, demorava 4h! Normal na Roménia, pensei eu. Vou comprar uma água e uma bucha para o caminho. Compro uma raspadinha (que ainda está por raspar), sento-me, levanto-me, ouço música, sento-me de novo. Levanto-me e vou ver onde era o sítio de onde saía a camioneta... "Plataforma 1" Tinha-me dito a mulher... começo a andar e a pensar... plataforma? estranho... e de repente vejo COMBOIOS!!! Começo a rir-me sozinho e percebo que estou numa estação de comboios e que tinha comprado um bilhete de comboio e não de camioneta! Ahahah. Entretanto entro dentro do comboio e percebo que talvez me tenha saído bem até, tem tomadas para ligar o pc de onde vos escrevo agora, é muito confortável, é mais seguro e é quentinho. Demora mais mas também é mais barato. Perfeito! A paisagem é deliciosa, baixo relevo, tudo branco!
Agora vou dormir um bocado, estou cansado desta semana e tenho uma longa noite pela frente em Bucareste ;)
Vou agora tentar a minha sorte com a raspadinha.

Até breve, multumesc!
(pormenor: multumesc tem uma cedilha no T e então lê-se multsumesc. Sempre a ensinar-vos coisas novas e interessantes, hein?)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Relações

Absolutamente fascinante a forma como desconhecemos a realidade Portuguesa imigrante.
Tenho lidado com alguns encarregados de obra Portugueses e é de facto impressionante como somos ignorantes em relação a esta gente. Vulgos trolhas ou serventes, vejo-os agora de forma diferente da minha ideia pré e precocente concebida. Muito além disso.
Trabalham há mais de 10 anos fora do seu país, na Irlanda, em Inglaterra, Alemanha, enfim… várias experiências e vivências diferentes. São pessoas muito trabalhadoras e com grande valor. Uns falam alto, outros comem de boca aberta, outros tocam nas pessoas quando falam, outros gesticulam muito, todos usam e abusam do calão de uma forma indeterminadamente constante. Todos trabalham, cada um à sua maneira. Mas todos produzem. Riem-se e vão vivendo as suas vidas focados em enviar dinheiro para Portugal, para a sua família. São profundamente determinados em ajudar os seus, respeitam-nos à sua maneira, nem sempre pelos mesmos parâmetros que regem a minha conduta. Guiam-se pelos seus, que à primeira vista reprimo, mas pensando melhor nas suas vidas chego a considerar legítimos. Falam inglês, alemão, até mesmo romeno. Sabem muito da vida em obra. Conversam sobre o que já fizeram, como fizeram, quando fizeram. Nota-se que isto é a vida deles, comentam camiões como quem comenta carros de alta cilindrada. Chegam a ver vídeos no youtube de camiões… “Esta máquina chega a carregar 30 toneladas…” Tratam o martelo por tu e são os responsáveis pelas coisas acontecerem, sejam elas, prédios, pontes ou autoestradas.
Dou por mim a jantar à mesa com 3 homens calejados de vida em obra a falar de viadutos, vigas, painéis de 2 por 3,5, mesas de cofragem, ferro de 16, paletes de barrotes, tijes, borboletas, manitous, muros de contenção, betonagens e afins.
Gente grossa e rude, não se iludam. Mas com muito conhecimento prático. Com o famoso “know-how” e faço questão que seja entre aspas. Homens sem os quais as coisas não aconteciam, repito.
E o mais interessante de tudo isto, é a minha mistura entre esta gente, a adaptação aos termos, ao calão, às demonstrações de amizade, mas ao mesmo ter consciência do meu saber escondido, as minhas outras formas de estar que guardo só para mim. Revelo-as quando falo com as altas patentes da obra. Fiscais de uma empresa inglesa ao serviço do dono de obra, neste caso o estado Romeno. Homens de mais de 60 anos, um sul-africano e outro sueco, com o seu rigor britânico e a sua conversa técnico-teórica, que também me desperta interesse, e onde talvez me sinta até mais à vontade. Estar a falar com velhas lendas da engenharia, em inglês, sobre soluções de betonagem com temperaturas abaixo de 5ºC (temp. mínima para a cura do betão) confesso que me dá gozo. Ao mesmo tempo vejo um dos tais encarregados a dar cartas e a mostrar toda a sua capacidade técnica adquirida ao longos de vários anos de trabalho “in the field”.

É esta a magia que tenho sentido em obra e me faz admirar estes homens. Sempre com humildade mas sem perder o respeito, aprender é assim… through the hard way. O constante balancear entre conversas com gente mais instruída, e simples serventes de obra dá calo e fumenta a principal característica de um trabalhador seja em que área for: a capacidade de uma pessoa se relacionar socialmente com os vários intervenientes com os quais sobre obrigados a lidar no contexto da nossa actividade profissional.
Numa obra de construção civil não é diferente, é fundamental.

Até breve, multumesc!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Momento

"Preso" na estação de metro da Piata Universitat em Bucareste. Cafezinho subterrâneo com wireless e chocolate quente nas mãos para aquecer. Música "I can fly". -5 ºC lá fora. À espera que os meus companheiros portugueses cheguem a casa para ir pousar as malas. Preso entre Constança e Bucareste, a sensação de ir a casa descansar 2 dias. Às vezes sinto-me um daqueles militares que vemos no comboio a ir a casa ao fim-de-semana, ou simplesmente um viajante perdido numa capital do leste coberta de neve.
Cá estou. A pensar em mim e em vocês que vão ler isto.

Até já, multumesc!