sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Dinâmica

20.11.2011 - Aeroporto Internacional de Alger - 17h30
"Entre Tizi Ouzou e Argel, abstraindo-me de toda a confusão que me rodeia penso e repenso a minha actual situação profissional e pessoal.
Nas viagens que faço entre a capital e a obra, nas esperas de café do aeroporto, faço constantes balanços. Sinto-me bem. São e capaz. Um dia a lidar com argelinos banais, por vezes mal formados, trabalhadores. Noutro a discutir milhares de euros com o empreiteiro geral. Segunda a fazer preparações de ferro para aplicar em sapatas ou pilares, Terça a fazer preparações de cofragem e ponderar a gestão do material. Perceber se é possível garantir a betonagem de Quinta com os painéis disponíveis. Autocad para perceber a quantidade de fechos de madeira que vão necessários fazer e aplicar. Quarta a trazer 4 Portugueses ao aeroporto e a trabalhar a "boa convivência" entre todos para a seguir estar aqui a tomar um café com o director de produção e a discutir horários de trabalho e rendimentos de equipas e pormenores de produção. Almoço a dois com temas a pensar o futuro na Argélia, no Brasil, perspectivas profissionais. Receber alguma motivação por um lado, perceber a responsabilidade depositada por outro. Alguma sintonia e companheirismo profissional de engenheiro para engenheiro. Olhar para trás e realizar o que se foi construindo, o que também contribui para esse crescimento. Quinta a tirar senhas de refeição para Sexta, receber queixas do pão do pequeno almoço que estava seco. Tanto ligo para apertar com o homem da cantina, como a seguir estou a fazer um planeamento do próximo mês e previsões de facturação. Estou constantemente ocupado sentindo respeito por todos. Gosto do que faço, de outra forma impossível estar aqui, viver aqui. Naturalmente que houve alturas em que não dormi bem, em que senti pressão, em que fui apertado, mas passar por tudo isso e ver a responsabilidade crescer faz-me sentir capaz e acima de tudo, que tudo se resolve. Com mais ou menos dores de cabeça, com mais ou menos saber.
Decidir às custa mas é necessário fazê-lo. Por vezes bem, por vezes mal. É tão importante acertar como errar. A repetição do erro faz-nos aumentar a incidência das boas decisões. Decidir bem treina-se.
No meio disto tudo tenho uma meia hora para tomar um café au lait no aeroporto enquanto espero, ler Mario Varga Llosa em espanhol, escrever em português e a seguir falar francês.
Adoro ter tempo para mim, faz-me imensa falta o desporto regular, a família, os amigos e Porto. Mas também gosto desta dinâmica de trabalho.
Sempre achei os aeroportos locais especiais. Vemos partir, vemos chegar, vemos dinâmica!"

Até já! Salam Malek*

sábado, 5 de novembro de 2011

Travesuras de la niña mala

Estou a ler um livro que comprei em Arequipa, Peru, de Mario Vargas Llosa e a personagem sobre a qual gira o enredo suscitou-me alguns minutos de reflexão.

A ambição é uma qualidade considerada por todos de inegável importância. Tal como a sua escassez é vista como sinal de mediocridade ou até mesmo pobreza de espírito. Qualquer pessoa que tenha vingado profissionalmente se diz de fortes ambições, homens bem sucedidos são repetidamente apelidados de empreendedores ambiciosos. Autobiografias em livro ou documentário não se cansam de enaltecer esta qualidade nas personalidades das mais diversas áreas como se dela dependesse o resultado final entre o sucesso ou o fracasso.
Porém, querer mais até que ponto? Não será ambição a mais também falta de maturidade? Não será sinal de infelicidade a longo prazo? Insatisfação crónica não é problema de fácil resolução. É medíocre estarmos satisfeitos com o que temos? Dar valor às pequenas (talvez grandes) posses que temos, ou às grandes (talvez de tamanha pequenez) conquistas profissionais? É bom? É talvez relativo interrogar assim de forma tão vaga. Tal como é também de relativa importância cada uma das vitórias pessoais que conseguimos tempo a tempo. Mas se vago é o meu assunto, espero que cativante também o seja. Pensar nisto faz bem de forma a encontrarmos o equilíbrio entre a ambição e o nível de satisfação que nos apraz.
E lembro-me agora de uma frase que esteve durante anos na parede de uma casa na rua Marechal Saldanha em frente a um dos "tea time spots" mais clássicos da cidade do Porto, a Xícara, e que dizia em letras grafitadas: "A vida é uma enorme refeição. Não faças dieta nem sejas guloso."

Até breve, Salam Malek
Incha Allah!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Simple Things

Dormir mais duas horas do que o habitual. Tomar o pequeno-almoço (my favourite daily meal) com tempo. Tê-lo para fazer torradas com doce. Acompanhar com um café com leite quente e notícias online do dia e rádio nova no ar. Ver Sic Notícias por meia hora. Fazer a barba. Almoçar e tomar um café na rua.

Banal? Sim.
Habitual? Não.
Outrora desvalorizado? Sim.
Gostoso? Claro.