segunda-feira, 7 de março de 2011

Emancipação Luso-Romena

Hoje tive um Domingo diferente. Este final de semana fiquei em Constanta e ontem não saí à noite. Hoje acordei cedo e tinha combinado com o Joan ir ver algumas motas em segunda mão que ando à procura. O Joan não trabalha para a minha empresa mas sim para a empresa espanhola que contratou a FCM, nomeadamente a FCC – o suposto inimigo! As coisas não deviam ser assim mas é a mais pura das realidades. Os conflitos são imensos, os contratos não são claros acerca de algumas responsabilidades e é o dia todo a decidir quem faz o quê e se é pago como trabalho extra ou se já estaria subentendido no contracto. Enfim, penso que é normal na construção este tipo de situações. Voltando ao Joan… Conheci-o na obra e pareceu-me um homem diferente dos demais. Trabalhou vários anos em Espanha e parece madrileno a falar por isso foi fácil comunicar… Trabalhador e interessante o homem. Fez-me várias perguntas, fez-se interessado mas sempre com uma postura profundamente humilde. Imagino que a sua vida não tenha sido fácil, soube mais tarde que fez parte do exército romeno durante alguns anos e depois foi para Espanha onde já trabalhava há 10 anos para a mesma empresa. O trabalho escasseia na terra de nuestros hermanos e foi, contra a sua vontade, recambiado de novo para o seu país natal onde ganha aproximadamente metade do que ganhava em Espanha. Apesar disso, não parece um homem amargurado, antes com uma grande garra de trabalhar e seguir a sua vida.
Em conversa de obra falei-lhe na minha vontade de comprar uma scooter para me deslocar aqui em Constanta e poder estar completamente independente de tudo e todos na obra. Posso dizer que gosto do que faço, da diversidade do dia-a-dia, da envolvência que se cria entre os trabalhadores, serventes ou carpinteiros, engenheiros ou encarregados, no ambiente de obra. No entanto, antes de me mudar de casa sentia-me sufocado. Gosto imenso de milhares de outras coisas para além do trabalho e não posso, não quero, nem vejo vantagem em me deixar absorver totalmente pela esponja do mundo da construção. Por um lado quero desenvolver este lado prático de saber como as coisas se fazem no campo, ganhando estofo e respeito, mas por outro desejo manter a minha faceta teórica e mais intelectual intacta! É importante comer, falar, discutir, socializar, rir, pensar com toda a espécie de pessoas. Neste caso, com pessoas de baixo nível social. E não falo (apenas) de serventes, mas sim de engenheiros e encarregados, Portugueses, Italianos, Romenos… enfim, vejo-me rodeado de pessoas sem modos, com pouca classe, com menos educação que eu. Como digo, não posso deixar que me retirem a sanidade mental que sempre me regeu, os princípios que me foram ensinados e agora fugindo ao tom dramático com que esta frase começou, precisava do meu espaço para poder viajar mentalmente para estar com vocês. Assim, tomei a decisão de arranjar a minha casa/quarto – check. O próximo passo é arranjar uma mota para me deslocar de forma, como disse, independentemente por esta terra. Desviei-me do assunto completamente =)
O Joan ofereceu-se de forma voluntariosa e deixou-me à vontade para lhe ligar no fim de semana que ele apanhava-me e ia comigo a uma feira só de coisas em segunda mão.
Podem imaginar um mercado repleto de ciganos Romenos, Búlgaros, Turcos a impingir tudo o que pudesse e o que não pudesse ser vendido. Não tinha a máquina comigo nem me parece que fosse apropriado utilizá-la naquele meio, mas posso-vos dizer que vi muita tralha e lixo que não percebo como é possível vender: fios de telefone, teclados de pc sem teclas, monitores com o vidro partido, auscultadores de telefone (só o auscultador mesmo, com os fios de fora), serras ferrugentas, botas usadas, sapatilhas usadas, roupa usada, chaves, chavinhas, chavetas, martelos, toda a espécie de ferramentas de trabalho enferrujadas, agulhas, ferros de engomar antigos (muito fixes), espelhos renascentistas, estátuas esquesitas, pins do regime soviético, canivetes, navalhas, cintos, fivelas de cintos, cordões usados, cordas, para além claro dos clássicos livros, relógios, óculos e essas coisas que se sempre se vêm neste tipo de feiras. Havia algumas motas e scooters à venda também mas de qualidade duvidosa e todas acima do razoável e também do budget… À saída do local no entanto, estava um rapaz de óptimo aspecto comparado com quase toda a gente da selva de onde tinha saído. Estava a vender uma scooter com bom aspecto e quase nova. Fundamental o facto de ter um romeno comigo para a comunicação e também para não parecer um estrangeiro endinheirado perdido no leste. O rapaz pareceu de confiança e o preço estava dentro daquilo que tinha pensado. Ficamos com o número e depois de alguma negociação amanhã espero fechar negócio. A ver vamos… Seguidamente ofereci o almoço ao Joan como forma de agradecimento e depois deixou-me em casa. Espero completar amanhã a minha tarefa de emancipação luso-romena. Se assim for, as coisas começam a ficar ao meu gosto e espero começar a tirar mais partido desta cidade que já percebi ter mais do que algumas pontes em construção. A propósito, Sexta Feira tive oportunidade de visitar algo da noite de Constanta e apercebi-me que há potencial equitativo ao de Bucareste. Sábado fui nadar aqui a uma piscina à beira de casa, num hotel chiquíssimo. Embora caro, soube-me maravilhosamente bem e deu para ter um cheirinho do pólo aquático do qual tenho saudades.

Com saudades de Portugal e de todos vós.

Até breve, multumesc!

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